A tarja preta da imprensa no relatório da CPI da Petrobras

Conclusões importantes foram convenientemente escondidas nos noticiários. A inclusão do nome de Vaccari durante a madrugada apenas expressa, mais uma vez, o uso político que se tenta fazer da Operação Lava Jato para atingir o PT

Nos últimos dias, acompanhamos as manchetes dos noticiários – todas iguais, por sinal – reproduzindo a indignação das redações com o relatório final da CPI da Petrobras. Talvez pelo fato de os responsáveis não terem lido o documento até o final ou, mais provável, por usarem o relatório de acordo com a conveniência, como tem sido prática cotidiana dos principais veículos de comunicação.

As matérias diziam: “Relatório isenta políticos investigados”. E, cinicamente, omitiam a seguinte explicação: “não se poderia esperar desta comissão a apresentação de rol de indiciados de pessoas que, porventura, já tenham sido indiciadas ou mesmo condenadas (…) Não faria sentido, nem possui lógica do ponto de vista jurídico, pedir o indiciamento, por exemplo, de Alberto Youssef. Ele é o eterno doleiro protagonista dos escândalos financeiros, que já foi condenado algumas vezes pela Justiça federal e que ainda possui outros processos pendentes de sentença.”

Mais curioso – para não dizer oportunista – é a omissão de aspectos importantes do documento que apontam algumas contradições e questionamentos aos métodos utilizados na operação, como o número surpreendente de delações premiadas. “Delatores tornaram-se heróis, regenerados instantaneamente dos seus crimes após celebrarem acordo com as autoridades, e suas declarações, em geral divulgadas indevidamente e fora de contexto, têm como objetivo influenciar a opinião pública. Delação premiada, isoladamente, não constitui prova”, diz trecho do relatório.

A existência de possíveis irregularidades na produção de provas por meio de escutas clandestinas na Polícia Federal ou de interceptações telefônicas que tornaria necessária a remessa de autos para o Supremo Tribunal Federal também foi destacada no documento.

Nesse “rol” de possíveis irregularidades, o relatório ainda aponta a manutenção de investigados em prisão preventiva como meio de obtenção de acordos de delação premiada; a escolha dos alvos de investigações; o vazamento seletivo de informações; e a possível combinação no depoimento de delatores cuja advogada Beatriz Catta Preta foi a responsável pelos acordos. “Todos os acusados da Lava Jato que a ela recorreram estão livres”, aponta o relatório, que recomenda “aprofundar as investigações para esclarecer os acontecimentos que resultaram no abandono dos processos na Operação Lava Jato pela advogada.”

É importante destacar que o acordo de delação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, foi firmado por ela e poderá ser rescindido, segundo divulgou o Valor Econômico, se confirmadas as suspeitas de que Costa omitiu nomes de políticos envolvidos e o dinheiro obtido com o esquema escondido no Brasil.

Perseguir Vaccari para atingir o PT

O nome de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, foi incluído na lista de indiciamentos aos 45 minutos do segundo tempo – durante a madrugada do dia 22. O sub-relator do documento André Moura (PSC-CE) é o autor da manobra, que apenas expressa, mais uma vez, o uso político oportunista que se tenta fazer da Operação Lava Jato para atingir o Partido dos Trabalhadores. Afinal, o próprio relatório aponta a necessidade de se ampliar as investigações a respeito das doações eleitorais aos demais partidos.

“Tendo em vista a mesma tese do Ministério Público Federal no Paraná, doações ao PSDB ocorreram em datas próximas aos pagamentos da Petrobras aos consórcios. Se havia então vantagem indevida “misturada” aos dispêndios da estatal com seus contratados, mereceria análise também as doações a outros partidos”, diz trecho do relatório, em que consta também a seguinte tabela elucidativa:

tabela doações

E ainda tem mais: “Levantamento aponta que 16 empresas citadas no caso Petrobras tiveram contratos com o governo do Estado de São Paulo entre 1987 e 2014 – para exemplificar, basta citar o Consórcio Via Amarela, acusado de superfaturar preços em contratos com o Metrô de São Paulo, do qual participavam, entre outros, os grupos Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão. A Camargo Corrêa, aliás, é citada também em suposto caso de superfaturamento na obra da Cidade Administrativa de Minas Gerais, do governo daquele estado.”

O esforço para criminalizar única e exclusivamente as doações feitas ao Partido dos Trabalhadores é tão grande que os investigadores do Paraná e os “moralistas sem moral” não se constrangem em ignorar dados que desmontam suas teses hipócritas.

É impossível aceitar a narrativa de que as doações, arrecadadas oficialmente como prevê a lei, sejam transformadas em propina somente quando é ao PT. Eles podem continuar tentando, pois está no DNA dessa turma a desfaçatez. Nós continuaremos reafirmando: Vaccari é preso político e, na condição de tesoureiro, recebeu apenas doações oficiais ao partido.

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